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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O caçador de dinossauros O paleontólogo e professor universitário Alexander Kellner ganha R$ 3 mil por mês e é o responsável pela descoberta de um réptil que habitou o nordeste brasileiro há mais de 110 milhões de anos


Vivianne Cohen
André Durão

“Existe muito interesse pelos dinossauros, o que não existe é verba”, diz o pesquisador que descobriu nova espécie de réptil
Faz nove anos que o paleontólogo Alexander Kellner, 38 anos, iniciou sua aventura em busca de fósseis de dinossauros na Bacia do Araripe, no Ceará. No 15º dia de escavações, encontrou uma ossada, hoje identificada como a de um filhote carnívoro, que viveu há 110 milhões de anos no Brasil, recém-batizado de Santanaraptor placidus. Junto com os ossos, foram encontrados músculos, couro e vasos sangüíneos do animal. A descoberta pode fazer os paleontólogos reviverem o sonho do filme Jurassic Park, de Steven Spielberg: a reconstituição do código genético de um dinossauro.
De fascinante, só a descoberta. Depois, foi trabalho duro. Até retirar os ossos de campo, quebrando as rochas que os circundavam, a equipe do paleontólogo levou mais de um mês. No laboratório, foi a vez de removerem a camada de sedimento que cobria os ossos para, em seguida, se debruçarem sobre o microscópio para tentar determinar a espécie de dinossauro que tinham em mãos. Entretanto, o estudo teve que ser paralisado porque Kellner e sua equipe só dispunham de equipamento para analisar os ossos do animal. O tecido foi enviado para os Estados Unidos, mas os paleontólogos americanos também não souberam lidar com o material. “Nunca ninguém tinha se deparado com um exemplar da espécie. O Santanaraptor é único”, conta. Os restos mortais do dinossauro foram devolvidos, então, ao Museu Nacional. Só em 1996 Kellner conseguiu verbas do governo para prosseguir em sua empreitada de analisar a estrutura do animal.
Mas nem só de histórias com final feliz vive o caçador de dinossauros. Numa viagem recente ao deserto do Atacama, o lugar mais seco do mundo, o carro de Kellner quebrou a cerca de 50 quilômetros do lugarejo mais próximo. Para piorar a situação, ele foi surpreendido por uma chuva passageira e rara no deserto. Teve que andar, encharcado, na areia, em busca de ajuda. “A vida de um paleontólogo não tem nada de Indiana Jones”, brinca.
Antes de partir para suas expedições, Kellner abastece sua mochila com alimentos enlatados e macarrão. O ofício o obrigou a aprender a cozinhar. “O que faço melhor é café”, brinca. Dependendo do local da expedição, os banhos são raros. “Aprendemos a conviver com as privações”, diz. “Mas basta encontrar um osso para valer a pena.”
Nos acampamentos, os pesquisadores costumam se revezar nas “tarefas domésticas”, tais como lavar a louça e a roupa. Quando está no Rio, Kellner não descansa. Habitualmente faz cooper na praia de Copacabana em busca de preparo físico para enfrentar as próximas aventuras.
ESCAVAÇÃO COM OS FILHOS Filho de pai alemão e mãe austríaca, o paleontólogo nasceu em Liechtenstein e, aos quatro anos, mudou-se para o Brasil com a família. O gosto por animais pré-históricos surgiu por causa de um desenho animado, os Herculóides, no qual um dos personagens era um dragão. “Quando me perguntam para que estudar os fósseis, eu costumo perguntar: para que saber quem descobriu o Brasil? É simples. Faz parte da História.”
Depois de se formar em Geologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e fazer mestrado, Kellner foi cursar doutorado na Columbia University, em 1991, num programa que a universidade mantém com o Museu de História Natural. Cinco anos mais tarde, ao regressar ao Brasil, Kellner se naturalizou. Apesar de ter recebido várias propostas boas de emprego por lá, o paleontólogo preferiu trabalhar no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje, ele sobrevive com o salário de R$ 3 mil como professor-adjunto da UFRJ. “Lá, eu seria mais um pesquisador. Aqui, tenho mais chances”, explica.
O trabalho começou dentro de casa. Divorciado e pai de Alexandre, 13 anos, e Guilherme, 11, Kellner levou os filhos há um mês para uma escavação em Minas Gerais. Queria que eles vissem de perto a sua rotina. Mais do que uma aventura, a expedição teve outro objetivo. “Quero que eles aprendam a respeitar e saibam a importância do trabalho do paleontólogo. É isso o que falta no Brasil”, diz. É o que Kellner pretende mostrar com as exposições que monta no Museu Nacional. Uma delas, No Tempo dos Dinossauros, em 1999, foi a mostra científica temporária mais visitada no País, levando 220 mil pessoas ao museu. “Existe muito interesse pelos dinossauros, o que não existe é verba.”

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